domingo, 10 de julho de 2011

O ÚLTIMO APRENDIZ DE POLÍTICO!

Hoje é domingo e aproveito para dar uma caminhada nas ruas de Porto Alegre e me vem a mente um poema de Quintana, ando daqui e dali e quando me dou conta estou na Praça da Alfandega, vejo solitário,em um banco, um velho, ôpa! Não é o politicamente correto, desculpe, um senhor idoso, que parece conversar com os pombos, então peço licença e solicito permissão para um dedo de prosa, o senhor bem educado, faz um gesto apontando para seu lado, então sento e lhe questiono do porque num dia de inverno, apesar de estar uma temperatura amena, e ele  ali sozinho, de inopino ele me diz: Olha aqui meu guri, tenho muita coisa para te falar, tens tempo para escutar? Assenti com a cabeça, num sinal de positivo! E o senhor de terno azul marinho e aqueles óculos estilo Virgulino, começou a falar sobre a vida e sobre seus tempos de militância, que era mais ou menos assim: Em 1961, quando ainda era um jovenzinho e escutei pela "rádia" Guaíba a voz de Leonel Brizola conclamando o povo para que reagisse e apoiasse a posse do " Jango", peguei os poucos "mirrési' que possuía e me mandei para a "redenção", pois lá se encontrava o povo pronto para revindicar seus direitos constitucionais, e olha moço que foram dias difíceis aqueles, o palácio transformado em trincheiras, a brigada nas ruas e eu mais faceiro do que ganso novo em beira de taipa, o tempo foi passando e todo o dia, em casa, parava em frente ao rádio e escutava a Voz da Legalidade e aquilo me enchia de orgulho de ser gaúcho, brasileiro e cidadão. Mas no dia 31 de março de 1964, ai como vocês dizem,  o "bixo'" pegou, as coisas não podiam ser faladas abertamente como agora, tudo era proibido, me lembro que estudava  lá no Julinho e ali na Salgado tinha uma sede do DAIU, onde com mimeografo, sabes o que é? A gente fazia os manifestos para entregar ao pessoal, mas para o meu azar entreguei um deles para um "infiltrado" e sabes onde fui parar? Isto mesmo lá no DOPS e ai meu guri,  o pau comeu, fiquei de molho uns 20 dias, até que me deram permissão para sair, passei em casa peguei as minhas "tralhas" e me mandei para o Uruguai e de lá direto para Cuba. Passaram-se os tempos e em 1979, estava de volta, me lembro de uma música acho que era do Nelson Coelho de Castro, que falava sobre o Brizola, mas diretamente e dizia assim: História que ele vai vim, Vai tremer com os boneco daqui.  Nós não "somo" pelego e nem "cheremo" a jasmim, é meu "piá"! Não foi fácil o retorno, tudo era estranho para nós, os amigos já nem queriam nos ver, trocavam de calçada, então tentamos fazer uma nova esquerda, um novo partido e as coisas começaram a andar devagarinho, apareceu uns caras lá pelos lados do ABC, nem preciso dizer este nome , pois hoje me causa náuseas só em pensar que um dia empunhei bandeira, fechei portão de firmas, chamei colegas de trabalho de pelego, enfrentei policiais, pondo-lhes as culpas pela "revolução", que eram covardes que batiam em trabalhadores, meu discurso estava bem decorado, chamávamos os caras da direita de neoliberais, denunciávamos a corrupção, destituimos um Presidente, então chegamos ao poder com o "cara" e vi que as coisas que até então pregávamos, ficou perdido em uma curva qualquer do tempo. Olha rapaz, já não tenho mais tempo para brigas e ataques, me sinto um pobre palhaço, sem palco e sem plateia, então todos os domingos,  venho aqui e como dizia o Zé Geraldo, em sua música Milho aos Pombos, "Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos". Então o senhor levantou-se colocou seu chapéu, me deu um tapa no ombro,  pediu desculpas por ter ocupado meu tempo e seguiu por meio as árvores da praça, então fiquei ali por mais alguns minutos analisando e assimilando a pequena grande aula recebida de graça, vim para casa,  abri o google e pesquisei sobre a música e quem era Zé Geraldo, então em homenagem aquele senhor, do qual nem perguntei o nome,  guardei as bandeiras, os botons e tirei da cabeça a ideia de um dia mudar o mundo, e em sua homenagem posto aqui a letra da música MILHO AOS POMBOS, é para pensar no que ela diz!
Enquanto esses comandantes loucos ficam por aí
queimando pestanas organizando suas batalhas
Os guerrilheiros nas alcovas preparando na surdina suas Mortalhas
A cada conflito mais escombros
Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos
Entra ano, sai ano, cada vez fica mais difícil
o pão, o arroz, o feijão, o aluguel
Uma nova corrida do ouro
o homem comprando da sociedade o seu papel
Quando mais alto o cargo maior o rombo
Eu dando milho aos pombos no frio desse chão
Eu sei tanto quanto eles se bater asas mais alto
voam como gavião
Tiro ao homem tiro ao pombo
Quanto mais alto voam maior o tombo
Eu já nem sei o que mata mais
Se o trânsito, a fome ou a guerra
Se chega alguém querendo consertar
vem logo a ordem de cima
Pega esse idiota e enterra
Todo mundo querendo descobrir seu ovo de Colombo.
Obrigado meu velho novo amigo, por ter feito eu pensar que um dia, também como o senhor eu  fui para a praça dar milho aos pombos. Até amanhã

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